domingo, 31 de maio de 2009

Se nunca foi, não é agora que passará a ser.

Ela anda por aí como se existisse um peso nas costas
um que a curva em direção do chão,
um que se lamenta, que chora e a castiga.
Daí, no escuro, outra abre a porta e a traz a luz que cega,
Dá-lhe o comprimido, dá-lhe água, e toda a vergonha de uma cara inxada de lágrimas. Puxa-lhe o queixo, apontando seu nariz pra cima. Abraça-lhe.
_O que há? É difícil me amar, não é? Eu sei que é.
Sim, é mesmo, mas o faz. Mal sabe o que é amor, mas o faz.
Céus, ela demora para perceber que a outra também começa a se emocionar. Meio a suas explicações seria inútil reparar em algo naquele jeito estupidamente orgulhoso.
_Respeite-me apenas.
Ela já, também, o faz! Pleonástico. Nesse lar, respeito é a única coisa que há.
"A minha responsabilidade é cumprida, e será até quando minha obrigação esgotar perante a lei."
Antes dito, não a assustava, é claro. O futuro é longe, não se vê. Muito falta, falta muito. Quando chegar lá ela estará livre como um filhote de peixe que é devolvido ao mar.
-A diferença de temperatura, os furos e outros danos causam lesões e estonteio. Quase todos os peixes morrem ao voltar ao mar.-
Acontece que o tempo não para. Mesmo o que é esquecido pelo medo, um dia chega. Nas vésperas disso começa a tomar-lhe o medo diante do claro alívio que começa a tomar a outra.
Ser feliz dentro e fora de casa. Nascer querido, desejado, bem-vindo. Crescer com ajuda, conselho, acompanhamento. Formar-se estruturalmente, sentimentalmente, ter seu porto seguro. Morrer vivido e conformado. Isso lhe é inviável, é de mentirinha. Final de novela mexicana.
Ela pode chorar, fazer votos de silêncio, parar de comer, morrer, ou apenas se desanimar com tudo. A outra nunca será o que nunca foi. Nunca estará do lado que nunca esteve. Nunca sorrirá para o que nunca o fez. Nunca se satisfará com o que sempre esteve errado.
A hora está para chegar!
Medo, medo, medo, medo.
Aos dezoito a outra lhe dará a carta de alforria e a história se repetirá.
Dá-lhe a liberdade!
Mas não a estrutura, não as condições, não o apoio para a sobrevivência.
Que assim seja, pois.
Tenta olhar pelo lado bom; aprender a viver sozinho é algo inevitável.
(só não precisava ser desde sempre.)

terça-feira, 19 de maio de 2009

O dom de escrever
sagrado e precioso,
de se expor
quando não há vergonha,
há apenas sabedoria
de vivência e sofrimento.
As pupilas dilatadas,
uma bela escrita,
um belo texto,
artificial.
Um dia, sem nada disso,
é triste perceber,
mas nem o ódio ou o amor,
a tristeza e a solidão
rabiscam o papel como antes.
Já não se admira mais como antes também,
porque eu não tenho idéia,
eu não sei de nada
sobre como isso surgiu.
Se antes explicava perfeitamente
o que parecia inexplicável,
agora até um mero dia
torna-se complexo e confuso,
triste e sombrio
o suficiente para o cansaço vencer.
A merda do cansaço de viver.
Chegou em casa exausto de trabalhar,
desabotoou os primeiros botões da camisa,
comia faminto, mas entre uma garfada e outra
achava espaço para dizer o quanto
é mais importante que eu.
Não valia me defender,
seus anos de vida eram bem maiores que os meus,
mas suas teses eram fixas demais,
em um mundo que sempre muda.
Ele é apenas outro
tão otário quanto eu.
“Não quero te pressionar, você sabe,
mas se não fizer o que tem que ser feito,
assinará o atestado de errado
bem como sempre foi.”
Meio a sua promessa de não se repetir,
torna-se paradoxo quando contadas as vezes que escuto
esse mesmo discurso.
E o que é falado demais,
enche-me o saco.
mas agradeço desde já
as prestações que endividei com a vida,
e com o que não tenho culpa.
Não é pirraça ou desgosto,
é obrigação implícita
de pagar tudo de volta.
No mundo que me encontrava antes,
a verdade é que esse é muito pior
e obrigatório.
Meu exílio, meu castigo.
A merda que se torna estar vivo.
Vou empurrar o quanto der,
uns querem diversão, outros salvação.
Fins pelos meios, atrás do que satisfaz.
Mas que cu, cacete!
Eu só quero um pouco de paz.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Don't know when, but a day is gonna come.

É verdade o que ouvi sobre o filho de Deus?
Ele veio para salvar? Ele veio mesmo?
E se eu secasse seus pés com meu cabelo sujo,
Ele me faria limpo de novo?
Eles dizem que não sabem quando, mas um dia está pra vir,
Quando eles não serão lua e não serão sol.
Eles enegrecerão. E tudo voltará a ser como era antes.
Conheci uma menina adorável, com um belo orgulho, e todo homem a queria... Como eu também.
É, eu também.
Mas ela cresceu e morreu num momento de vaidade.
Agora homens com Purple hearts carregam armas prateadas
E matarão um homem pelo que seu pai fez.
Bem… O que meu pai fez… Não importa a mínima. Eu não sou ele.
Então você acha que eu preciso de um pouco de disciplina, bem, divido minha parte,
Fui mandado pro meu quarto. Estive sentado em uma cadeira.
Eu prendi minha língua. Não pluguei meus ouvidos.
Não, eu tenho uma boa fala.
E eu não sei por que,
Mas eu ainda tento sorrir quando eles falam comigo como se eu fosse só uma criança.
Então… Eu não sou uma criança...
Não, eu sou muito mais novo que isso.
Eu li alguns livros e cresci completamente corajoso.
Se eu pudesse apenas dizer, eu acho que diria que não há verdade,
Há apenas você, e a verdade que você faz.
Então eu apenas cantarei minha música e passarei o chapéu.
E deixarei sua cidade e nunca olharei para trás.
Não, eu não olho para trás porque a estrada está limpa e colocada atrás de mim.
Vou pra casa e encontrar meus amigos em nosso bar favorito.
Vamos deixar as cabeças leves para os corações pesados.
E dividiremos a bebida,
Sim, dividiremos nossos medos, e eles saberão como os amo.
Eu não sou nada sem o amor deles.

Eu não sei quando, mas um dia está pra vir
Onde eles não serão lua e não serão sol.
Eles enegrecerão.
E tudo voltará para o jeito que devia ser.
É verdade o que escutei sobre o filho de Deus?
Ele morreu por nós? Ele morreu ao menos?
Se eu vendesse minha alma por uma bolsa de ouro,
Quem de nós seria o mais babaca?

Você poderia começar a explicar?
Você sabe, eu preciso entender.
Como me agradariam umas explicações...
Você sabe. Eu quero entender.




Bright Eyes